quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Reinauguração

Existem textos que leio que adoraria ser o seu autor, mas infelizmente nem sempre isso é possível, é o caso desse texto de Carlos Drumond de Andrade.

Entre o gasto dezembro e o florido janeiro,entre a desmistificação e a expectativa, tornamos a acreditar, a ser bons meninos,e como bons meninos reclamamos a graça dos presentes coloridos. Nossa idade-velho ou moço-pouco importa.Importa é nos sentirmos vivos e alvoroçados mais uma vez, e revestidos de beleza,a exata beleza que vem dos gestos espontâneos e do profundo instinto de subsistirenquanto as coisas ao redor se derretem e somem como nuvens errantes no universo estável. Prosseguimos. Reinauguramos. Abrimos os olhos gulosos a um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos. Esta é a magia do tempo. Esta é a colheita particular que se exprime no cálido abraço e no beijo comungante,no acreditar na vida e na doação de vivê-la em perpétua procura e perpétua criação. E já não somos apenas finitos e sós. Somos uma fraternidade, um território, um país que começa outra vez no canto do galo de 1º de janeiro e desenvolve na luz o seu frágil projeto de felicidade.

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