quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Eu sei mais não devia (Marina Colasanti)

EU SEI QUE A GENTE SE ACOSTUMA. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz. E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá pra almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos. E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa. E a fazer filas para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes. A abrir as revistas e a ver anúncios. A ligar a televisão e a ver comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos. A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. A luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. A contaminação da água do mar. A lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta. A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Livros que valem a pena ler em 2009.

A Cabana - Willian P. Young (Uma excelente respostas para os religiosos de plantão que vivem dando respostas vazias aos mistérios da existência)

Os Miseráveis - Victor Hugo (Para quem tiver paciência de vencer suas mais de mil páginas, um excelente clássico da literatura)

Dom Quixote De La Mancha - Miguel de Cervantes (Outro livro que é necessário ter paciência, outro clássico da literatura que além de engraçado nos dá uma grande lição de vida)

Maravilhosa Graça - Phillip Yancey (Para quem nunca entendeu o que significa a graça de Deus)

Deus sabe que sofremos - Phillip Yancey (Para os que vivem buscando resposta para todos os problemas da vida)

Crime e castigo / Os irmãos Karamazovi - Dostoiévski (disseca a alma humana nos mínimos detalhes)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A doença de Jesus

De todas as características que Jesus possuía a que mais marcou a sua vida foi o amor. O seu amor O fez lutar contra um sistema corrupto e idólatra, o amor às pessoas o fez tocar em leprosos, perdoar pecados, ressuscitar mortos, quebrar regras sociais. Ele “sofria” de uma doença chamada ÍNTIMA COMPAIXÃO e, por isso, Ele não se importava com a Sua própria vida pois a Sua compaixão O movia em direção a todos: os necessitados, os aflitos, os deprimidos, os doentes. Ele amava a todos, os bons e os maus. Ele amou aqueles que gritaram para crucificá-Lo. Amou os guardas que O torturaram. Amou os líderes religiosos que O invejavam. Amou os soldados que O cravaram na cruz. Amou aqueles que debochavam Dele enquanto seu corpo sofria dores de câimbra. Amou até mesmo os dois ladrões que estavam ao Seu lado, ainda aquele que não O reconheceu. Ele tinha íntima compaixão de todas as pessoas, dos ricos e dos pobres, dos são e dos doentes, dos pecadores e dos religiosos, Ele amou a todos sem distinção.
E por sofrer dessa “doença”, Cristo não só marcou a história, mas a dividiu, suas atitudes iniciaram a maior revolução que a humanidade já vivenciou, a Revolução do Amor. É disso que o mundo está carente, de pessoas que amam como Jesus amou. O mundo não precisa de mais políticos, de mais pensadores, de mais líderes religiosos, o mundo precisa de amor. Se queremos mudar a história da nossa vida, da nossa família, da sociedade, de nosso país, nós devemos “sofrer” de íntima compaixão pelas pessoas.
É disso que o mundo está carente. Chega de pregarmos um evangelho utópico. Chega de prometermos aquilo que Jesus nunca prometeu. O mundo não está precisando de mais uma nova revelação, não está precisando de mais Apóstolos, Bispos ou cargos eclesiásticos similares, o mundo não precisa de políticos evangélicos para moralizar o congresso ou senado, o mundo precisa de uma igreja que saia da teoria religiosa que cega e aprisiona as pessoas.

O mundo precisa de uma igreja que ame incondicionalmente. Uma igreja que pratique a Lei de Deus: “ Ame a Deus e ao próximo como a si mesmo”. Esse é o verdadeiro evangelho.

Sola Scriptura

A fé na corda bamba

Após alguns anos como membro de igreja e outros como obreiro passo por um momento de ostracismo, onde revejo meus princípios e valores. Algumas pessoas alegam que estou desviado, outras que estou confuso e até já me falaram que estou mesmo é doente. Assim sendo segundo a opinião alheia não sei o que tenho, mas independente disso vou expor o que vi e ouvi nos últimos anos:


Muito pouco tenho escutado sobre a importância da cruz na vida de uma pessoa, sobre o plano da salvação, sobre a graça, o perdão de pecados, a reconciliação com Deus, em sumo tudo aquilo que Cristo fez pelo homem ao morrer na cruz do calvário.

Muito pouco escutei alguém falar que os apóstolos sofreram por amor ao evangelho, quase nada escuto sobre Hebreus 11 – Os heróis da fé, que sofreram e até morreram por amor ao evangelho.

O que muito tenho escutado segue abaixo:

* Pregações de auto-ajuda, onde o pregador procura associar o evangelho a uma vida melhor (é preciso sempre ler sobre a vida dos apóstolos para se ter certeza do que é a verdade).

* Palavras de vitória, onde todas as dificuldades da vida serão solucionadas por um passe de mágica por Deus.

* Como realizar quebra de maldições, isso sempre se utilizando os textos do antigo testamento. Não sou especialista nisso, mas se acredito em maldição então terei que acreditar que tudo o que está escrito no Antigo Testamento é válido para a vida da igreja atual?

* Lembro-me quando era criança que só existiam pastores e esses andavam pelo meio da igreja conversando com os membros. Atualmente existem vários títulos (bispos, apóstolos, reverendo, até bispas – pelo amor de Deus não assassinem a língua portuguesa o correto é episcopisa, e etc.). E com alguns são tratados como verdadeiros artistas, outros são idolatrados. E algumas denominações o líder fundador tem poder papal, isso é, tudo o que diz vira lei, não pode ser contrariado ainda que todos vejam que está errado, isso é acreditar na infalibilidade humana. Na minha bíblia Deus utilizou uma jumenta pra ensinar ao profeta, o que quero dizer é que Deus usa quem ele quer e quando ele quer o mérito nunca foi e nunca será nosso.

* Eu não sabia que tantos textos bíblicos serviam para justificar a entrega de dízimo, oferta e algo mais. A partir dessa data vou passar a anotar todos os textos que são citados na hora do ofertório.

* Eu também não sabia que Deus passa a ter obrigação comigo a partir do momento em que eu entrego uma oferta especial ou até mesmo o meu dízimo. Numa linguagem financeira. Quando dou oferta ou dízimo, Deus passa a ser meu DEVEDOR. Logo eu posso cobrá-lo sobre essa dívida! Ele tem a OBRIGAÇÃO de me pagar. Não seria isso uma indulgência pós-moderna onde se tenta vender as bênçãos? (Como era realizado antes da reforma)

Com isso faço algumas perguntas?

O que as igrejas fazem com o dinheiro arrecadado? Evangelismo através da televisão? Construção de templos suntuosos? Campanhas políticas? Depois do Bispo Crivela que apareceu na mídia fazendo campanha para o miserável interior do nordeste brasileiro o que mais foi feito? Quantas pessoas seriam ajudadas se ao invés de programa de televisão ou templos se comprasse comida para quem tem fome? Estamos falando em milhões de reais gastos mensalmente. Sem contar que não se fala mais em missionários dentro das igrejas, ou quando se fala a quantia enviada para eles é irrisória comparado ao que é arrecadado.

Nunca tivemos tanta representatividade nos órgãos governamentais de evangélicos e o que efetivamente mudou no nosso país?


Analisando um quadro desse, minha fé fica como numa corda bamba, oscilando sobre o que acreditar quando escuto esses “pregadores” assumindo o papel de verdadeiros oráculos de Deus. Se não tivesse aprendido em casa o verdadeiro evangelho acho que já teria sido seduzido por alguma religião ocidental.

Que Deus tenha misericórdia de nós.

Sola Scriptura

Reinauguração

Existem textos que leio que adoraria ser o seu autor, mas infelizmente nem sempre isso é possível, é o caso desse texto de Carlos Drumond de Andrade.

Entre o gasto dezembro e o florido janeiro,entre a desmistificação e a expectativa, tornamos a acreditar, a ser bons meninos,e como bons meninos reclamamos a graça dos presentes coloridos. Nossa idade-velho ou moço-pouco importa.Importa é nos sentirmos vivos e alvoroçados mais uma vez, e revestidos de beleza,a exata beleza que vem dos gestos espontâneos e do profundo instinto de subsistirenquanto as coisas ao redor se derretem e somem como nuvens errantes no universo estável. Prosseguimos. Reinauguramos. Abrimos os olhos gulosos a um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos. Esta é a magia do tempo. Esta é a colheita particular que se exprime no cálido abraço e no beijo comungante,no acreditar na vida e na doação de vivê-la em perpétua procura e perpétua criação. E já não somos apenas finitos e sós. Somos uma fraternidade, um território, um país que começa outra vez no canto do galo de 1º de janeiro e desenvolve na luz o seu frágil projeto de felicidade.

Estou desviado

Estou desviado de um evangelho triunfalista que prega que a partir de um propósito passo a ter crédito com Deus e que a minha vida nunca mais será a mesma.
Estou desviado de um evangelho sem graça (sem alegria), que mede as pessoas pelo que elas tem.
Estou desviado de um evangelho implacável, pois não perdoa aqueles que pecam.
Estou desviado de um evangelho sem graça (sem o favor imerecido), que engrandece homens com títulos e honras porque são considerados imaculados.
Estou desviado de um evangelho que só prega o engrandecimento de denominações.
Estou desviado de um evangelho que motivacional, onde é o maior “barato” ir para a igreja.
Estou desviado de um evangelho que possui louvor repetitivo.
Estou desviado de um evangelho onde os pastores são megaempresários.
Estou desviado de um evangelho que promete muito mais do que pode dar.
Estou desviado de um evangelho que mostra um Jesus vitorioso e nunca o Jesus humano que chorou.
Estou desviado de um evangelho que despede o povo com fome, porque a ação de cidadania se transformou num “curral eleitoral” de seus candidatos.
Estou desviado de um evangelho que se politizou porque o Brasil precisa de representantes do povo de Deus para defender a verdadeira fé cristã.
Estou desviado de um evangelho que só prega a prosperidade, mas esqueceu de anunciar que temos que tomar a nossa cruz e seguir.
Estou desviado de um evangelho que só incha, sem transformar as vidas.
Estou desviado mas continuo caminhando rumo ao calvário, aonde morreu um carpinteiro chamado Jesus.

Procura-se um Pastor.

Estou à procura de um Pastor conforme descriminado abaixo:

Procuro um Pastor que se preocupe com as ovelhas
Que goste de conduzir as ovelhas
Que goste do cheiro de ovelha
Que caminhe comigo uma até duas milhas sem se cansar.
Procuro um pastor que vai atrás da centésima ovelha,
E não a deixa morrer sozinha, porque Deus entregou a ele uma obra muito maior, ou porque ela era uma ovelha complicada mesmo.

Procuro um Pastor que seja simples.
Não um Pastor pop star, que ao acabar o culto se cerca de seguranças até o seu gabinete.
Procuro um Pastor que caminhe no meio da multidão
Que não se preocupa em aparecer na mídia, nem nos debates.
Procuro um pastor que não queira aparecer em grandes congressos para pregar, mas que queira pregar por amor as almas sem se preocupar com a oferta que vai receber ou com quantas pessoas estarão na reunião.

Procuro um pastor que se preocupe mais com as almas do que com a estrutura
Procuro um Pastor que não esteja envolvido em construir uma grande catedral para a sua denominação, que reconheça que quando uma simples alma se converte há uma festa no céu.
Procuro um pastor que ande no meio do povo, e não apenas no meio da elite.
Que não faça culto para os empresários, ensinando a eles como ficarem mais ricos, após claro darem uma oferta generosa para a igreja.

Procuro um Pastor que não use o púlpito para fazer campanha política
E muito menos use a Bíblia para justificar o envolvimento da igreja com a Política
Que não use a sua igreja como curral eleitoral para eleger aqueles que interessam a ele ou a uma denominação

Procuro um pastor que abrace, que chore, que sorria, que sofra.
Que seja sincero, seja simples, seja amável.
Que seja humano e não super herói
Que não esteja preocupado em converter o mundo inteiro
Mas se esforce para conduzir com dedicação aqueles que fazem parte do seu rebanho
Que não venda bênçãos, nem muito menos milagres.
Que não seja legalista, mas me ensine somente a amar.
.
Que não seja triunfalista, que não prometa uma vida sem derrotas, sem doenças, sem problemas, mas que me ensine a confiar em Deus no meio da adversidade.
Que me ensine a viver baseado em Hebreus 11 para que talvez consigamos receber o título de homens e mulheres dos quais o mundo não era digno.

Se você encontrar esse Pastor por aí
Diga a ele que o estou esperando
Para minha vida ele pastorear
Talvez ele se surpreenda que junto comigo
Uma multidão ele irá encontrar


Sola Scriptura

Quem sou.

Sou alguém que foi criado por Deus livre,
E que por isso pensa livremente, descompromissado em ter que agradar a quem quer que seja.
Livre de pensamentos que criam um Deus manipulável através de esforços pessoais.
Livre da religiosidade que acorrenta milhares de seres assustados com a sua existência e que por isso se submetem a regras humanas que os aprisionam.
Livre de ideologia de que não posso mudar. Sou mutante, sou inconstante, sou apenas um aprendiz na escola da vida.
Livre da opinião alheia, daqueles que sabem exatamente o que devo fazer da minha vida, mas que não conseguem resolver seus conflitos pessoais.
Livre dos conceitos e pré-conceitos de qualquer facção política, religiosa, ideológica, ou de qualquer grupo de pessoas que se unam para criar a sua verdade.
Creio somente na verdade de que Deus me ama, e que para que isso aconteça, nada do que eu possa fazer poderá mudar.
Assim vivo a plenitude da graça de Deus, independente do que dizem ou pensam sobre mim.
E dessa forma vou vivendo, lutando, construindo e conquistando apesar de todos os percalços da vida.
Plagiando o apóstolo Paulo: Esquecendo-me das coisas que para trás ficaram, sigo para o alvo....
Sola Scriptura.